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sábado, 4 de junho de 2011

Os grandes fluxos do comércio mundial e a construção de uma malha global 3 _2 bimestre

PENSAMENTO VIVO
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele ou por sua origem ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender. E se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta." Nelson Mandela

“Nós, que sobrevivemos aos campos, não somos as verdadeiras testemunhas. Esta é uma idéia incômoda que passei aos poucos a aceitar, ao ler o que os outros sobreviventes escreveram, inclusive eu mesmo, quando releio meus textos após alguns anos. Nós, sobreviventes, somos uma minoria não só minúscula, como também anômala. Somos aqueles que, por prevaricação, habilidade ou sorte, jamais tocaram o fundo do poço. Os que o fizeram, e viram a face das Górgonas, não voltaram, ou voltaram mudos”

Primo Levi, escritor italiano, foi um dos 23 sobreviventes entre os 649 judeus que foram encaminhados para Auschwitz com ele em abril de 1944.
03 de JUNHO de 2011
Os grandes fluxos do comércio mundial e a construção de uma malha global
O comércio é por definição uma forma de relação humana que implica colocar em contato grupos sociais diferentes. Na origem da história humana para um grupo A interessava obter de outros grupos aquilo que não se con¬seguia produzir, aquilo que somente outros grupos possuíam. Esse gênero de relação exigia estender relações sobre espaços mais amplos, obrigava a abrir caminhos, rotas e construir portos, estimulava a criação de novos meios de transporte e impunha a criação de estruturas para os comerciantes. Como se vê, o comércio é uma atividade humana produtora de novos es¬paços humanos e uma atividade que ensinou o ser humano a lidar com a distância geográfica.





No mundo contemporâneo tudo isso in¬tensificou extraordinariamente. Com os no¬vos meios disponíveis, as atividades comer¬ciais aumentaram o poder de uma das forças propulsoras da "fabricação" de novos espa¬ços e do aperfeiçoamento dos meios de supe¬ração da distância entre as realidades geográ¬ficas. Vamos pensar nas marcas de produtos comerciais que frequentam nosso dia-a-dia. Qual a origem nacional da marca? Numa série de produtos (roupas, calçados e eletrônicos, por exemplo) onde é a localidade da fabrica¬ção? São duas coisas diferentes: um produto pode ter uma marca de origem americana e ser produzido na China. Uma marca pode ser francesa e seu produto pode ser, ao menos em parte, produzido no Brasil.
Isso revela a complexidade das relações atuais, num mundo globaliza¬do, embora uma relação comercial, ao pé da letra, resuma-se à saída do local de pro¬dução (ou ponto de venda) até o ponto do consumo.
Os fluxos de produtos que chegam até nós vêm do mundo, de um sistema produtivo e comercial que se organiza na escala mundial, não somente dos nossos vizinhos, do mundo ocidental ou do extremo oriente.
O comércio como acelerador dos fluxos; aceleração dos fluxos intensificando o comércio
O mundo contemporâneo é complexo. Isso não quer dizer complicado, como é comum se pensar. Complexo significa que cada realidade isolada é sempre produto do conjunto da realidade total, ou das diversas realidades em relação. Durante os últimos 50 anos as exportações mundiais aumentaram em volume, nove vezes mais rápido que a produção mundial. Produz-se mais, mas se comercializa entre países muito mais ainda. Quer dizer que boa parte da produção antigamente circulava mais no interior dos pró¬prios países onde eram produzidas; hoje a produção circula muito mais numa escala geográfica mais ampla: circula o mundo.
O comércio não cresceu por si só, porque tem mais gente com¬prando bens. O comércio cresceu porque uma série de eventos e transformações cruzadas nes¬se nosso mundo propiciaram essa condição (e que já estudamos): a aceleração dos fluxos, as redes técnicas, a força das transnacionais e suas redes geográficas, a geopolítica, a ordem mundial e a ação das potências, que permitiram nesses últimos 50 anos que os mercados nacionais nada mais fossem que "seções" de um único e imenso mercado mundial. Outros exemplos de eventos que propiciaram o crescimento do comércio: desenvolvimentos tecnológicos, a multiplicação dos meios de compra e informação sobre os produtos, o afrouxamento das fronteiras dos Estados nacionais territoriais etc. A imagem dos fluxos comerciais no mundo contemporâneo é forte. Nunca o planeta pareceu tão pequeno, tal a dimensão dos fluxos e as distâncias que eles percorrem. Longos trajetos, outrora feitos apenas por aventureiros, atualmente são as principais rotas comerciais do mundo. Rotas oceânicas percorridas por navios que ancoram em portos, abarrotados e congestionados de mercadorias, e rotas aéreas que chegam em pontos antes inalcançáveis resultam da busca desenfreada por novos mercados, por novos consumidores.
O comércio, obviamente, não ocorre somente na escala mundial, isto é, na relação entre continentes e países diferentes. Os fluxos ocorrem internamente dentro de uma região, numa escala inferior: produção no país/continente e consumo no país/continente.O grande desafio da cartografia contemporânea não é localizar com precisão fenômenos geográficos, pois isso já está pronto e atualizado pelas imagens de satélite; o grande desafio está em conseguir expressar visualmente as relações espaciais que se desenvolvem num mundo cada vez mais complexo, ou seja, a utilização da linguagem. Para se produzir um mapa, antes de tudo, é preciso ter acesso às informações, à base de dados que será objeto da representação. Na cartografia temática contemporânea, há uma tendência em se preferir as projeções do tipo da de Buckminster Fuller ou a de Bertin para a representação de fluxos comerciais (lembre-se do mapa do tema 5, dos fluxos migratórios). Elas aproximam os blocos continentais, eliminam as imensas distâncias oceânicas e dão uma idéia mais expressiva e real do que são os fluxos no mundo contemporâneo. Projeções como a de Peters ou a de Mercator têm uma proeminência muito grande dos oceanos e expressam visualmente distâncias longuíssimas entre o extremo da Ásia e as Américas, por exemplo. A seta é compreendida, universalmente, como símbolo gráfico adequado para representara direção dos fluxos, pois permite expressar quantidade com a manipulação de seu tamanho (largura). Setas largas estarão representando fluxos de maior quantidade; mais estreitas, o contrário. Definir símbolos de comunicação não dá margem a diferentes interpretações. O que se vê tem sempre que ter sempre um único significado. Os blocos continentais no fundo do mapa devem ter uma única cor para todos. Uma cor leve e neutra para não ofuscar as setas. Define-se uma única cor para as setas e elas não podem se sobrepor umas às outras. Se fossemos montar um mapa com o tema “Comércio mundial de mercadorias”, constariam dados do comércio que poderiam ser representados cartograficamente em quadrados ou círculos (quanto maior, significa maior o volume negociado) ou por setas, e os números poderiamos colocar em uma legenda (resultando em uma representação quantitativa, pois apresenta números).
Hoje, os fluxos mais importantes no comércio mundial de mercadorias estão entre a Ásia e a América do Norte, entre a Ásia e a Europa Ocidental e entre a América do Norte e a Europa Ocidental. O fluxo da Ásia para a América do Norte é maior, mesmo com a imensa distância oceânica (que foi superada por conta da globalização, que encurtou as distâncias, realidade no mundo contemporâneo). O fluxo gira em torno da América do Norte, Europa e Ásia, mas os maiores fluxos ocorrem entre os países desenvolvidos para os subdesenvolvidos (tanto saída como entrada de mercadorias). Já os menores fluxos estão entre os próprios países subdesenvolvidos (tanto saída como entrada de mercadorias). A Ásia aumentou significamente suas exportações, principalmente para os EUA e Europa e se consolidou como um grande pólo exportador. Muitas transnacionais, que normalmente tem sede nos EUA e Europa, começaram a produzir nos países deste continente (China, por exemplo), para baratear a produção. E a mão-de-obra é farta e barata, aumentando a produção em grande escala e negociação de seus produtos por preços mais baixos. Os EUA são o maior comprador nesse tipo de relação e isso é uma participação fundamental, pois esse país é um grande mercado. Seu papel, como exportador, é um pouco menor, o que contraria uma visão de país forte (aquele que mais vende e que menos compra). Mas essa visão não corresponde ao modo como a economia global se organiza atualmente. Nesse modelo, importação e exportação não têm o mesmo peso de épocas anteriores. Por isso, os EUA não perderam sua importância no comércio internacional. O peso do comércio em escala regional (no mesmo continente, país ou região) ainda é grande, mas o comércio entre os continentes, ou seja, escala global (inter-região) está crescendo cada vez mais.

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