TEXTO PARA 6ª SÉRIE ENSINO FUNDAMENTAL.
1. Fronteiras da República Federativa do Brasil (uso do vídeo)
Profa. Mario – Geografia – 6ª. série
Vamos iniciar nossos estudos a partir das fronteiras e limites
do território brasileiro, tendo em vista o ordenamento jurídico administrativo
da República Federativa do Brasil. Como exemplo, vamos interpretar o mapa
político do país, assim como de outros mapas em diferentes escalas, tornando
possível situar a unidade escolar no município, na região administrativa e no
Estado de São Paulo.
A República Federativa do Brasil é organizada em três níveis de
poder: o municipal, o estadual e o federal. Assim, para estudar o território
brasileiro é preciso considerar mapas em diferentes escalas, do território do
município ao território da nação.
O mapa na página 3 do caderno do aluno apresenta a divisão
política do Brasil. O Brasil é um país, uma nação e está no âmbito federal.
Quando algo se refere como federal, devemos entender que é no sentido do país.
Por exemplo, quando vemos uma informação que tal obra é realização do Governo
Federal, é algo que o presidente do país determinou, tem uma abrangência maior.
O país está dividido em vários “pedaços” que chamamos de Estado.
Como exemplo, temos Roraima, São Paulo, Minas Gerais. Os estados são administrados
pelos governadores. No “Mapa da divisão municipal do Estado de São Paulo”, na
página 4 do caderno do aluno, observamos o Estado de São Paulo dividido em
vários “pedaços”: os municípios ou cidades. Os municípios (cidades) são
administrados pelos prefeitos. Como exemplo mais próximo temos Osasco, Cotia,
Guarulhos, São Paulo, Santo André. Tente localizar a cidade de São Paulo no
mapa da página 4.
Para enriquecer nosso entendimento, vamos analisar o exemplo da
família de um menino que vive no município de Araruama, no estado do Rio de
Janeiro. O vídeo “Araruama, o espelho das águas” apresenta aspectos históricos,
econômicos e políticos da formação do município de Araruama, com base em
situações da vida cotidiana.
A Região dos Lagos, localizada no
Estado do Rio de Janeiro, historicamente foi uma região ocupada para a produção
de sal. Aos poucos, as salinas foram sendo substituídas por loteamento para a
exploração turística, principalmente de segunda residência (casas de veraneio).
No litoral do Estado do Rio de Janeiro, há várias formações lagunares (lagoas),
principalmente na região conhecida como Região dos Lagos. Dentre elas, a Lagoa
de Araruama banha seis municípios do Estado do Rio de Janeiro: Saquarema,
Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Arraial do Cabo. A
Lagoa estabelece o limite administrativo entre vários municípios fluminenses,
mas não divide esses municípios. Pelo contrário, os unifica em uma mesma
fronteira: a do turismo litorâneo. Apenas uma parte da lagoa de Araruama
pertence ao município de Araruama, que faz limite com outros municípios
cariocas, como Cabo Frio. Ainda que todos esses municípios façam parte de uma
mesma realidade, por estar localizados em uma região, a da Lagoa de Araruama,
com intensa exploração turística, existe limites entre os diferentes
municípios.
No Brasil, os estados de maior extensão territorial são aqueles
que se formaram mais tarde e que ofereciam alguma dificuldade de acesso aos exploradores,
como Amazonas, Pará e Mato Grosso. O mesmo acontece com os estados de maior
extensão territorial de terras indígenas: Amazonas, Pará, Roraima e Rondônia.
Já as maiores concentrações populacionais estão nos estados localizados na
faixa litorânea (onde começou o povoamento).
2. Fronteiras permeáveis
No estudo do território brasileiro,
vamos aprofundar o estudo das fronteiras nacionais. Diferentemente da idéia de
limite, o termo fronteira é mais amplo e pode ser compreendido como a margem do
mundo conhecido e habitado. Neste caso, a idéia de fronteira como frente
pioneira ou área de expansão em direção a territórios “vazios” ou “a
conquistar” sempre foi muito forte no caso brasileiro. Contudo, a emergência
dos Estados nacionais no século XVIII e processos de demarcação de terras
coloniais, como ocorreu com Portugal, na América, associaram fronteira à linha
de divisa entre Estados vizinhos. Ou seja, a palavra limite tem sua origem no
fim daquilo que mantém coesa uma unidade político-territorial. Assim, limite é
uma linha de separação abstrata, porém definida juridicamente (fator de
separação), enquanto fronteira configura uma zona de contato (fator de
integração).
Leitura e comparação
de mapas da zona de fronteira do Brasil com seus países vizinhos
Vamos estudar a situação do Brasil na zona de fronteira com seus
países vizinhos (zona de fronteira internacional), a partir de exemplos de
cidades gêmeas, contíguas territorialmente com outras cidades de países
vizinhos. No caso do Brasil, há inúmeras cidades na zona de fronteira,
inclusive 123 delas consideradas cidades-gêmeas.
No mapa “Zona de Fronteira – Cidades e Vilas”, na página 10 do
caderno do aluno, observe a faixa laranja, que apresenta a zona de fronteira.
Observe os outros países.
Os únicos países sul-americanos que não possuem fronteira com o
Brasil são o Chile e Equador. No caso do Chile, o contato por terra com o
Brasil se estabeleceu por meio da Argentina, tendo a cidade de Mendonza como
ponto de apoio para a travessia da Cordilheira dos Andes; se observarmos o
mapa, podemos atravessar o Paraguai ou a Bolívia. O Equador pode ser acessado
através do Peru e da Colômbia. Bolívia é a fronteira mais permeável e extensa,
com inúmeras interações. No sentido do sul para o norte, observam-se grandes
cidades como Corumbá, Cáceres, Vilhena e Rio Branco, localizadas na faixa de
fronteira. Há uma rodovia que liga Corumbá a Santa Cruz de la Sierra. Mais ao norte, podemos observar várias
cidades-gêmeas, como Brasiléia (Acre) e Guajará-Mirim (Rondônia). O estado
brasileiro que possui uma ocupação mais densa na zona de fronteira é o Paraná.
Fazendo divisa com o Paraguai e a Argentina, possui inúmeras cidades na zona de
fronteira e um intenso comércio com os países vizinhos.
Análise
das interações econômicas em zona de fronteira
Um exemplo de cidade-gêmea e as interações existentes em sua
zona de fronteira é o de Guajará-Mirim, Rondônia. Ela está separada de sua
cidade-gêmea boliviana Guayaramerín apenas pelas águas do rio Mamoré, como
mostra a foto de satélite “Guajará-Mirim e Guayaramerín” na página 11. É
possível avistar pessoas que vivem na outra cidade, na margem oposta. Apesar de
essas pessoas viverem em países diferentes, elas podem fazer parte de várias
interações. Do Brasil para a Bolívia circulam produtos alimentícios, calçados e
eletrodomésticos. Da Bolívia para cá circulam madeira, borracha, gado bovino e
castanha. As capitais Porto Velho (Rondônia) e Rio Branco (Acre) mantêm
relações econômicas com a Bolívia através de Guajará-Mirim. São comercializados,
principalmente, combustível e gêneros alimentícios, por via terrestre.
Outro exemplo é o caso de Tabatinga (Brasil) e Letícia
(Colômbia). Diferente de Guajará-Mirim, para o viajante cruzar a fronteira
internacional entre Tabatinga e Letícia não precisa atravessar um rio. Basta
atravessar ou ir em frente por uma das avenidas da cidade brasileira e o
visitante já se encontra em outro país, como podemos observar na foto de
satélite “Tabatinga e Letícia”, na página 13. Essa é a situação cotidiana de
milhares de brasileiros que vivem na fronteira. O Brasil estabelece interações
econômicas com o mundo por meio de Tabatinga. Além do intercâmbio que se
estabelece com a Colômbia e o Peru, por essa zona fronteiriça o Brasil conecta
essa região com outros países, como os Estados Unidos e a China. Os produtos
industrializados provenientes da China e Estados Unidos chegam nessa zona de
fronteira através do transporte marítimo, desembarcados no porto de Manaus. De
Manaus, essas mercadorias seguem para Tabatinga por via fluvial e de lá são
distribuídas para o interior da Colômbia e do Peru. Em Tabatinga
comercializam-se produtos alimentícios, material de construção e pescado. Em
Letícia, os brasileiros compram gasolina, autopeças, cigarros e produtos eletroeletrônicos.
3. Estudo da formação territorial do Brasil por meio de mapas
Como se consolidou a formação territorial do país? Vamos
analisar as ações políticas e territoriais, responsáveis pela consolidação
histórica de nossas fronteiras e que culminaram em um país de dimensões
continentais.
Os mapas mais antigos do Brasil revelam a forma de ocupação do
território durante os primeiros séculos de dominação portuguesa: o interior da
Colônia, ainda desconhecido, “enfeitado” com ilustrações indígenas, plantas e
animais “exóticos”, e o litoral, que estava sendo explorado, ocupado e nomeado.
Durante muito tempo, as atividades econômicas mais importantes do Brasil
colonial – responsável pela produção de mercadorias extrativas e agrícolas para
comercialização nos mercados europeus – permaneceram nas proximidades do mar e
dos portos marítimos.
Os mapas da América Portuguesa do século XVIII revelam uma
mudança muito importante: as cartas náuticas foram substituídas pelas cartas
topográficas e passaram a ser valorizadas como recurso fundamental para
localizar as riquezas encontradas no interior da Colônia. As cartas
topográficas transformaram os conhecimentos da Cartografia em importantes
instrumentos para o registro das informações obtidas do território na ocupação
do interior do continente. Esse detalhamento dos mapas das terras brasileiras
foi um recurso técnico fundamental para o sucesso das negociações diplomáticas
que garantiram a posse portuguesa do atual Rio Grande do Sul e uma parcela
considerável da Bacia Amazônica, conforme ficou estabelecido no Tratado de
Madri (1750).
Introdução
à comparação de cartas seiscentistas
A configuração do território mudou ao longo do tempo, por isso é
importante estudar os mapas históricos para compreender como ocorreu esse
processo.
Os mapas mais antigos do Brasil e da América do Sul revelam a
forma de ocupação do território pela Coroa Portuguesa durante as primeiras
décadas da colonização. Observe o “Planisfério de Ptolomeu, 1486”, nas páginas 20 e 21 do caderno
do aluno. Cláudio Ptolomeu viveu no século II e era geógrafo, astrônomo e
matemático alexandrino. Ele escreveu duas grandes obras: “Composição
matemática, estudo sobre Astronomia” e “Geografia, um manual com instruções
para a elaboração de mapas e uso de projeções”. A obra de Ptolomeu foi
conservada pelos árabes e introduzida no ocidente durante a Idade Média.
Mantida nas bibliotecas européias, seus mapas representam a visão que os
europeus tinham do mundo pouco antes das grandes navegações, com base nos
conhecimentos acumulados desde a Grécia antiga e era a principal fonte de
consulta para o estudo do mundo conhecido antes das grandes navegações. Essa
edição se encontra na Biblioteca Nacional.
Os continentes conhecidos pelos
europeus eram Europa, Ásia e África. As ornamentações da moldura do mapa eram
pessoas soprando o vento (deuses do vento). Essas figuras, desenhadas na
decoração do mapa, estão associadas com o uso das cartas nas navegações (eles
usavam as direções dos ventos e das marés para orientação). Para os europeus
daquela época, não existia a América.
O segundo mapa da série, o
“Planisfério de Wytfliet (detalhe), 1597”,
na página 22 do caderno do aluno, é considerado o primeiro atlas americano,
rico em detalhes, principalmente ao se considerar o traçado de alguns rios. Seu
autor foi um belga que simplesmente inseriu na base cartográfica de Ptolomeu as
terras recentemente descobertas. Os elementos geográficos da América do Sul
utilizados na representação desse mapa eram rios e montanhas e as duas
principais bacias hidrográficas representadas no mapa eram a Bacia Amazônica e
a Bacia do Prata.
Preparação
da leitura e comparação de cartas seiscentistas
Os mapas seiscentistas apresentam um rico detalhamento de
informações sobre o litoral brasileiro.
Se observar um mapa do relevo brasileiro atual, preste atenção
nas bacias hidrográficas: percorra o curso d’água do rio Amazonas e depois do
rio Paraná, desde a nascente até a foz. Faça o mesmo procedimento para
reconhecer o trajeto percorrido por outros rios brasileiros, como o São
Francisco, o Araguaia e o Tocantins. Esses três últimos rios correm no sentido
sul-norte (representados cartograficamente, na folha de papel, como se fosse um
traçado “de baixo para cima”). Nem “tudo que está em cima desce”. O mapa é
apenas uma representação e, portanto, vocês devem considerar o traçado em solo.
Para finalizar essa leitura exploratória, vamos estudar o
“Planisfério de Cantino,1502”, nas páginas 24 e 25, e o mapa “Terra Brasilis”,
de Lopo Homem nas páginas 26 e 27: as desembocaduras dos rios das principais
bacias hidrográficas eram referências para a navegação costeira no novo
continente. As informações mais precisas que os portugueses possuíam das novas
terras, em 1502, conforme registro no “Planisfério de Cantino” é o traço da
linha de Tordesilhas, que dividia as possessões das novas terras e as que
porventura fossem descobertas pela Espanha e Portugal. Do novo continente, já
estão traçados, dentro da precisão da época, o perfil atlântico do Brasil e, de
forma bem detalhada, as ilhas do Caribe. Trata-se de uma carta náutica, na qual
é possível observar o traço da direção dos ventos em toda a superfície
representada. Já em 1519, em “Terra Brasilis”, de Lopo Homem também há os rumos
dos ventos, mas o detalhamento das informações da costa brasileira é muito
maior, inclusive com a indicação dos nomes de inúmeras localidades. As
ilustrações ornamentais desses dois mapas, tecnicamente chamadas iluminuras,
complementam as informações mais precisas do mapa com uma série de aspectos
pitorescos como naus, caravelas, cidades, homens e animais, desenhados de
maneira figurativa. Os pontos extremos do avanço português, tanto para o Norte
como para o Sul foram a foz do Amazonas (Norte) e a foz da Bacia do Prata
(Sul).
A interpretação dos mapas é uma habilidade muito importante para
a compreensão da Geografia: é a transposição de um conhecimento expresso em uma
linguagem para outra.
Leitura
comparativa de cartas dos séculos XVII e XVIII: a ocupação do interior
O acervo documental dos séculos XVII e XVIII é bastante rico em
detalhes em função da forte expansão dos portugueses em direção ao interior da
América. Alguns traços comuns nas narrativas são as situações que ocorreram no
litoral, envolvendo embarcações ou o contato com indígenas. As cartas e
diários, como fonte de registros históricos, são importantes porque não havia
outra forma de comunicação naquela época. Hoje, as formas de comunicação do
mundo atual (internet, rádio, televisão) facilitam a disseminação de novas
idéias e notícias.
Além dos mapas, muitas bibliotecas, arquivos e museus do Brasil
e de Portugal possuem documentos como cartas e diários de bordo,
importantíssimos para o estudo da História e Geografia de nosso país. Este é o
caso do material existente no Arquivo Nacional que, a exemplo da Biblioteca
Nacional, possui um site muito interessante – um exemplo das novas formas de
comunicação e de divulgação das informações no mundo contemporâneo.
A carta “Contato entre brancos e índios”, nas páginas 29 e 30 no
caderno do aluno, foi extraída desse site e retrata as condições sob as quais
os portugueses viviam nas localidades distantes do litoral. Os personagens
envolvidos na situação são padres, bandeirantes e índios. O autor da carta
escreve para seus superiores a respeito do receio de um padre de viajar por
alguns caminhos onde vivem índios hostis aos portugueses. Segundo relato do
padre, quando houve a tentativa de aproximação, os desbravadores foram atacados
pelos índios, o que exigiu o uso de armas de fogo. A ocupação portuguesa no
interior da América não foi pacífica. O fato ocorreu nas proximidades de
Cuiabá, em 1820.
Leitura
comparativa de mapas dos séculos XVII e XVIII: demarcações a serviço da
diplomacia
Se compararmos mapas do século XVII
com o mapa das entradas e bandeiras (séculos XVII e XVIII), identificamos
alguns elementos geográficos comuns: os rios conhecidos eram os da Bacia do
Prata e da Bacia Amazônica. A zona de contato entre essas duas bacias era a
região do Pantanal, indicada nos mapas como um grande lago no interior do
Brasil. A maioria dos lugares identificados (com nome) está localizada no
litoral. Os portugueses conheciam, do território paulista, seguindo o traçado
dos rios Paraná e Paranapanema, algumas cidades e povoados criados no litoral
paulista, como Itanhaém e São Vicente. As ruínas de missões jesuíticas, nos
atuais territórios do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, estavam
localizadas ao sul da capitania de São Vicente. Nessas regiões, jesuítas
espanhóis haviam ensaiado fixar o índio à terra, por meio da catequese. Vila
Rica, por exemplo, possuía 45 mil habitantes, quando foi invadida e destruída
pelo bandeirante Raposo Tavares, em 1628. Os mapas eram importantes para a
consolidação das posses portuguesas e indicavam os principais caminhos adotados
na exploração do interior do continente.
Uma idéia importante para o desenvolvimento do conceito de
território é a diferenciação entre fronteira e limite:
-
Fronteira é mais amplo e pode ser compreendido como a margem do mundo conhecido
ou habitado. Neste caso, a idéia de fronteira como frente pioneira ou área de
expansão em direção a territórios “vazios” ou “a conquistar” sempre foi muito
forte no caso brasileiro. Contudo, a emergência dos estados nacionais no século
XVIII e processos de demarcação de terras coloniais como ocorreu com Portugal
na América associaram fronteira à linha de divisa entre estados vizinhos;
configura uma zona de contato (fator de integração).
- Limite
tem sua origem no fim daquilo que mantém coesa uma unidade
político-territorial; é uma linha de separação abstrata, porém definida
juridicamente (fator de separação).
As diferenças entre fronteira e limite são essenciais, uma vez
que a primeira é orientada para fora (forças centrífugas) e a segunda para
dentro (forças centrípetas).
Observando os mapas utilizados para a demarcação dos limites
territoriais do Brasil, no século XVIII, identificamos o que estava em
discussão entre Portugal e Espanha: a definição do traçado de linha divisória.
Esses mapas indicavam inúmeros acidentes geográficos, necessários como pontos
de referência da documentação diplomática (amigável). Os rios ou as cadeias
montanhosas foram utilizados para a demarcação dos limites territoriais do
país.
Contudo, a emergência dos estados nacionais no século XVIII e
processos de demarcação de terras coloniais como ocorreu com Portugal na
América associaram fronteira à linha de divisa entre estados vizinhos.
4. Estudo da formação territorial do Brasil por meio da
literatura: o contexto cultural
A narrativa proporciona aos leitores uma viagem imaginária para
o interior do mundo relatado. É uma espécie de mapeamento da experiência
cotidiana vivenciada por alguém, em algum lugar. Enredo, personagens, tempo,
lugar, foco são alguns dos elementos profundamente interligados numa narrativa
que se complementa no todo da história. Vamos explorar esse universo literário
para a ampliação do nosso horizonte geográfico por meio da diversificação de
linguagens.
Leitura
e comparação de mapas do Rio Grande do Sul do século XVIIIl
Um exemplo de dimensão cultural das fronteiras políticas é o Rio
Grande do Sul. Seu território é resultado da história ocorrida a partir da
destruição das missões jesuíticas por tropas portuguesas e o tenso contato com
as comunidades indígenas e a América espanhola em seus arredores. O contexto
regional, no qual estavam inseridos os gaúchos no século XVIII, justifica a
condição de isolamento da fronteira gaúcha, distante milhares de quilômetros
das outras cidades e de povoados portugueses, numa zona de fronteira
politicamente instável, como observamos nos mapas “Rio Grande do Sul: primeira
metade do século XVIII” e “Rio Grande do Sul: campanha gaúcha do século XIX”
nas páginas 34 e 35 no caderno do aluno. Por exemplo, os empreendimentos
portugueses naquela época eram a construção de fortificações e a fundação de
povoados como Rio Grande de São Pedro (Porto Alegre).
Observando esses mapas citados, percebemos que a ocupação
portuguesa ocorre do litoral para o interior. A Vila do Rio Grande de São
Pedro, que dá origem a Porto Alegre, era o povoado mais antigo, além de algumas
fortificações. No final do século XIX, vários povoados já existiam nas
proximidades do Rio Uruguai, como São Borja, aproximando os limites
territoriais gaúchos da atual forma do Rio Grande do Sul.
Leitura
comparativa de textos de obras romanescas gaúchas
Segundo o Atlas de representações literárias do IBGE, não faltam exemplos de boas
narrativas do povo da fronteira no Rio Grande do Sul. A condição de fronteira
conquistada e o forte sentimento de pertencimento do povo gaúcho marcaram
profundamente a Geografia, a História e a literatura do Estado.
Vamos “mergulhar” no universo cultural da fronteira, lendo um
fragmento dos “Contos Gauchescos” de Simões Lopes Neto, na página 37, no
primeiro quadro, do caderno do aluno e de um outro do romance, “Um quarto de
légua em quadro”, de Luiz Antônio de Assis Brasil, na página 38. Coloque-se no
lugar dos personagens ou do narrador da história. Que sentimentos a narrativa desperta?
Medo? Curiosidade perante o desconhecido?
Leitura
comparativa de textos de obras romanescas gaúchas: o ambiente do Sul do país
Para aprofundar o conhecimento do universo imaginário da
fronteira, a sugestão é o contato com a obra de Érico Veríssimo, especialmente
“O tempo e o vento”. Trata-se de uma trilogia dividida em “O continente”, “O
retrato” e “O arquipélago”, com uma abrangência histórica de duzentos anos. No
trecho selecionado abaixo, o autor narra a relação do tempo com o lugar
explorando a ligação entre a formação do território e o enredo:
“Uma geração vai, e outra geração vem; porém a terra para sempre
permanece. E nasce o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar donde nasceu.
O Vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte continuamente vai
girando o vento, e volta fazendo circuitos”
VERÍSSIMO, Erico. O tempo e o vento: o Continente. Volume I.
São Paulo: Companhia
das Letras, 2007. p.32. © Herdeiros de Erico Veríssimo.
|
Outro trecho está na página 37, no
primeiro quadro, do caderno do aluno.
Como a obra literária pode ser
compreendida como resultado de uma busca incessante de uma linguagem que dê
conta de expressar a realidade para as pessoas nela inseridas? A apreciação da
manifestação artística também é de interesse da Geografia, pois amplia a nossa
capacidade de percepção do mundo. Além de inferir aspectos da ambientação do
lugar, temos a oportunidade de expressar adequadamente nossas idéias e
respeitar as idéias dos outros.
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